segunda-feira, 29 de agosto de 2011

ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

O jogo e a brincadeira estimulam o raciocínio e a imaginação, e permitem que a
criança explore diferentes comportamentos, situações, capacidades e limites. Faz-se
necessário, então, promover a diversidade dos jogos e brincadeiras para que se amplie a
oportunidade que os brinquedos podem oferecer.
Segundo Piaget as etapas do desenvolvimento são divididas por períodos de
acordo com os interesses e necessidades das crianças em suas diferentes faixas etárias, a
saber:
Período sensório motor (0 aos 24 meses)
Os primeiros esquemas do recém-nascido são esquemas de reflexos, isto é, ações
espontâneas que aparecem automaticamente em presença de certos estímulos. Os
esquemas-reflexo apresentam uma organização quase idêntica nas primeiras vezes que
se manifestam. Exemplos: estimulando um ponto qualquer da zona bucal desencadeia
automaticamente o esquema-reflexo de sucção; com uma estimulação na palma da mão
provoca imediatamente a reação de preensão.
Entretanto, no transcorrer destes intercâmbios os esquemas reflexos logo
mostram certos desajustes: os objetos estimulantes não se adaptam igualmente aos
movimentos de sucção, a mão, ao fechar-se, encontra objetos diferentes que forçam o
esquema de preensão. Em outros termos, a assimilação dos objetos ao conjunto
organizado de ações encontra resistências e provoca desajustes. Estes desajustes vão ser
compensados por uma reorganização das ações, por uma acomodação do esquema. Os
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desajustes constituem, pois, uma perda momentânea de equilíbrio dos esquemas
reflexos; por sua vez, os reajustes correspondentes ao êxito, constituem na obtenção –
também momentânea – de um novo equilíbrio.
As emoções são o canal de interação do bebê com o adulto e com outras
crianças. O diálogo afetivo entre adulto e criança principalmente caracterizado pelo
toque corporal, mudança no tom de voz e expressões faciais cada vez mais cheias de
sentido, constitui um espaço privilegiado de aprendizagem. A criança imita outras
pessoas e cria suas próprias reações: balança o corpo, bate palmas, etc...
Logo que aprende a andar a criança fica encantada com essa nova capacidade
que se diverte em locomover-se de um lado para outro sem finalidade específica. Com o
exercício dessa capacidade a criança amadurece o sistema nervoso, aperfeiçoando o
andar que se torna cada vez mais seguro e estável. Logo, a criança vai correr, pular,
entre outros.
A criança nessa idade é aquela que não pára, mexe em tudo, explora, pesquisa e
é curiosa. Seus gestos vão tendo progressos a cada dia, como por exemplo, consegue
segurar uma xícara para beber água, mas isso não significa que a manipulação dos
objetos se restrinja a esse uso, já que a criança também pode usar a xícara para brincar.
O aparecimento da função simbólica por volta do final do segundo ano de vida,
tem entre outras conseqüências, a de possibilitar que os esquemas de ação,
característicos da inteligência sensório-motora possam converter-se em esquemas
representativos. No faz-de-conta podem-se observar situações em que as crianças
revivem uma cena recorrendo somente aos seus gestos, como, por exemplo, quando
colocando os braços na posição de ninar, os balançam fazendo de conta que estão
embalando uma boneca.
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No plano da consciência corporal, nessa idade a criança começa a reconhecer a
imagem de seu corpo, o que ocorre principalmente por meio das interações sociais que
estabelece e das brincadeiras que faz diante do espelho. Nessas situações a criança
aprende a reconhecer as características físicas que interagem a sua pessoa, o que é
fundamental para a construção de sua identidade.
Período pré-operatório (2 aos 7 anos)
O período pré-operatório tem início no desenvolvimento da criança, com o
aparecimento da atividade de representação que modifica as condutas práticas, ou seja, a
criança passa a fantasiar e imitar o que vê.
De acordo com Piaget (1978), as primeiras reconstituições lingüísticas de ações
surgem junto à reprodução de situações ausentes, através da brincadeira simbólica e da
imitação. A criança começa a verbalizar o que só realizava motoramente.
Colocando em palavras o seu pensamento referente às brincadeiras de fantasiar,
a criança está se desenvolvendo ativamente e isso lhe dá possibilidades de se utilizar da
inteligência prática decorrente dos esquemas sensoriais motores, formados no período
anterior, de construir os esquemas simbólicos, por exemplo, um cabo de vassoura pode
virar um cavalo.
Este é o período da fantasia, do faz-de-conta e do uso de símbolos como
significantes, isto é, o cabo de vassoura (exemplo já citado), é o significante e o
cavalinho é o significado. A criança adora ouvir histórias pelo prazer de poder fantasiar
e imaginar o contexto e as personagens.
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Piaget (1978) afirma que nesta passagem de ação à representação, intervêm dois
mecanismos: abstração e generalização, distinguidas as abstrações empíricas, reflexiva e
refletida.
Na abstração empírica, as informações vêm da experiência física. Ações como
puxar, bater, montar, permitem abstração de informações das características dos objetos
e das próprias ações. Por exemplo, a criança pode batucar um balde imaginando um
tambor.
Na abstração reflexiva, a criança tem a capacidade de estabelecer relações de
correspondência e ordem entre os objetos, ou seja, passa a comparar, reunir, ordenar,
medir e corresponder de acordo com critérios estipulados por um adulto e mais tarde,
aos cinco, seis e sete anos, por ela mesma.
Já a abstração refletida, ocorre quando a abstração reflexiva torna-se consciente,
isto é, quando o que num certo momento passa a ser objeto de reflexão. Neste caso, a
criança consegue pensar nos objetos sem vê-los, imaginar o que eles fazem e expor suas
idéias sobre os mesmos.
Quanto à generalização, esta se refere e assegura a extensão dos esquemas já
construídos. As crianças passam a assimilar objetos e situações cada vez mais
diversificados e coordenam-nos por reciprocidade; em cada nova assimilação ficam
presentes as atualizações das possibilidades já latentes nas assimilações anteriores.
A cada conhecimento adquirido pela criança pré-operatória, ao mesmo tempo
em que integra como conteúdo o que já foi apreendido, o enriquece com informações
novas, o complementa com elementos próprios. Além de manusear os objetos, a criança
estabelece relações entre eles, sendo assim, o manuseio de objetos é um conhecimento
que antecede o estabelecimento de relações entre eles, e um complementa o outro.
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Neste período, a criança também possui como característica principal o
egocentrismo. Ela é o centro das atenções, consegue brincar com outras crianças, mas
não divide brinquedos nem suas idéias. É inadmissível, para ela, que outra criança tome
seu lugar de líder numa brincadeira ou divirja do que está pensando.
Esta característica é amenizada aos cinco e seis anos aproximadamente, quando
a criança passa a se adaptar ao processo de socialização. Tal adaptação se dá pelo fato
da criança construir novos conceitos e aprender a relacionar-se com outros. É a fase da
tomada de consciência, compreensão do que está à sua volta.
O processo de socialização da criança transcende suas brincadeiras conjuntas,
trocas de objetos ou mesmo o relacionamento afetivo com adultos. Ela desenvolve mais
e mais suas habilidades de comunicação, passa a ouvir melhor o que os outros têm a
dizer e torna-se capaz de emprestar o que é seu, aceitar o outro e se ver como membro
de um grupo.
Todo o conhecimento que a criança constrói depende dos estímulos oriundos do
meio onde está inserida e das ligações e relações feitas com esses estímulos, Portanto, é
fundamental que a criança aja sobre os objetos, a fim de transformá-los e assim
conhecê-los para poder construir e se adaptar às versões do mundo.
Período operatório concreto (7 aos 12 anos)
Nessa fase a criança demonstra a necessidade de ter um espaço agradável para
brincar e encontrar amigos. Pela amplitude que as relações sociais vão acontecendo na
vida da criança, percebe-se que as brincadeiras simbólicas vão sendo substituídas por
jogos construtivos e de regras. Surge com mais freqüência os jogos de competição, as
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regras são mais discutidas e importantes para a criança. O interesse por coleções e
esportes aumenta nessa idade.
Observa-se o simbólico ainda nesta fase, mas de maneira diferente, o interesse
por artistas de tv, esportistas, cantores e atores. Surge a necessidade de explicar
logicamente suas idéias e ações.
No plano afetivo o grupo tem um papel fundamental na descentralização e na
conquista de seu pensamento.
Os brinquedos e as brincadeiras de maior interesse nessa fase são:
Jogos esportivos: futebol, voleibol, basquetebol, futevôlei e outros;
Jogos pré-desportivos: queimada, pique, bandeira;
drible, dois toques, bobinho;
Jogos pré-desportivos do futebol: controle, gol a gol, chute em gol, rebatida,
Jogos populares: bocha, boliche, taco, malha;
elástico, pião, cabo de guerra;
Brincadeiras: bolinha de gude, pipa, carrinho de rolimã, mamãe da rua,
em distância, triplo, com vara, arremesso de peso e dardo;
Atletismo: corrida de velocidade, resistência, obstáculos, saltos em altura e
Ginásticas;
Esportes sobre rodas;
Esportes com bastões e raquetes;
Lutas: judô, capoeira e karatê;
Jogos de montar que sejam desafiantes;
Jogos de construção;
Jogos de regra: dama, xadrez, tabuleiros, carta;
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Jogos de pergunta e resposta;
Mini-laboratório;
Quebra-cabeça (elaborados);
Vídeo game;
Bonecas menores (coleção / que trocam roupas / de maquiagem).
Período operatório formal
Após os 12 anos o interesse da criança começa a se confundir com o dos adultos.
Apresenta-se nesse período, um maior desejo por jogos eletrônicos, vídeo game, jogos
de competição, tabuleiros e brincadeiras de aventura, além de esportes coletivos e
individuais, ginásticas e danças.

CLAUDIA GOES FRANCO NALLIN
© by Claudia Goes Franco Nallin, 2005

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